BRASIL

Os desafios e as perspectivas para a indústria brasileira de ônibus 2026

Ruben Bisi

Crédito Divulgação ao Autor

26/12/2025

Entrevista com Ruben Bisi, presidente da Fabus (Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus)

Qual a expectativa da Fabus com relação ao ano de 2026 para o mercado brasileiro de ônibus nos segmentos de urbano, rodoviário e micros?

R. O desempenho do mercado brasileiro de ônibus em 2026 ainda é uma incógnita. Na visão da Fabus, a produção brasileira em 2026 será igual ou um pouco abaixo da deste ano. Aspectos como a taxa de juros, déficit fiscal e as eleições tornam difícil fazer qualquer previsão para o próximo ano. Mesmo assim, eu acredito que vamos repetir o resultado deste ano ou talvez uma queda pequena de, no máximo, 5%.

Em urbanos, a expectativa é ter um aumento dos volumes e atingir entre 10.500 e 10.700 unidades, sobretudo em razão do PAC 3. Em rodoviários, a produção deverá chegar às 9.500 unidades. E no segmento dos micro e miniônibus, o do programa Caminho da Escola, deveremos fechar 2026 com entre 8.000 ou até 8.500 unidades, mas dependerá da realização do pregão, que estava programado para o final deste mês de dezembro e foi adiado. Assim, o mercado brasileiro de ônibus deve totalizar entre 27 e 28 mil unidades no próximo ano, com a possibilidade de ficar nos 26 mil ônibus, em um cenário não favorável.

Quais os principais desafios e quais os principais vetores que podem impulsionar o mercado?

R. Com relação aos vetores que podem impulsionar o mercado brasileiro de ônibus em 2026, creio que continua sendo principalmente a questão do preço dos combustíveis e das passagens aéreas, que deverão continuar a estimular a migração do transporte aéreo e do transporte individual, como os carros, para o transporte por ônibus. Além disso, destaco a possibilidade de, após a realização da COP 30, conseguirmos linhas de crédito, como do Fundo do Clima, para financiar as vendas de veículos descarbonizados.

Outros vetores que podem aumentar a demanda por ônibus no País são o PAC Mobilidade, o fato de 2026 ser um ano eleitoral e, normalmente, temos um aumento das verbas para aquisição de veículos urbanos e para investimento em infraestrutura, assim como o edital do Programa Caminho da Escola do FNDE, de 7,400 unidades, e o mercado de exportação, sobretudo  para a Argentina.

Não posso deixar de mencionar o apoio de diversas prefeituras do País para o transporte público, temos hoje cerca de 245 participando, e a criação do programa Tarifa Zero, que o Governo Federal deseja fazer, que poderá destinar algum subsídio para o transporte municipal e, assim, elevar a demanda por urbanos.

Com relação aos desafios, com certeza, o principal é a elevada taxa de juros, que restringe os investimentos para aquisição de novos veículos. Também precisaremos acompanhar outros aspectos: como o PIB vai se comportar, a taxa de emprego e variação da taxa Selic. Tudo isso pode impactar negativamente na demanda por ônibus.

Na sua opinião, a transição energética deve caminhar em que ritmo?

R. A transição energética é um caminho sem volta e temos que ser eficientes para promovê-la da melhor forma no nosso País, dando prioridade às diversas fontes de energia limpa, sustentável e renovável existentes. Acreditamos no crescimento forte, em 2026, da utilização do biometano como um dos combustíveis renováveis que cidades, como São Paulo e Goiânia, deverão adotar.

Também a adoção dos veículos elétricos segue firme. Apesar dos episódios de falta de energia em algumas das principais cidades do País e da ainda deficiência na infraestrutura de recarga, a produção e venda de elétricos deverá continuar a crescer, apenas não na velocidade que imaginávamos. Em 2025, ultrapassamos a marca de 1.000 unidades fornecidas e já temos mais umas 500 encomendadas para 2026. Cidades como Goiânia, Brasília, Porto Alegre, Salvador e Vitoria, além de São Paulo, planejam incorporar mais veículos às suas frotas.

Outra solução em desenvolvimento é o ônibus híbrido a etanol, mas está ainda em seu início. Em 2026, a sua implementação ainda será incipiente. O objetivo é termos as primeiras unidades aprovadas e realizar os primeiros testes para avaliar os benefícios e vantagens da sua adoção,

Entendemos que esses três modelos são os mais viáveis e indicados para o transporte rodoviário brasileiro. Células de combustível de Hidrogênio e o diesel verde HVO são outras opções, mas de não tem rápida aplicação.

A eletrificação pode acelerar ou o uso de combustíveis renováveis e sustentáveis como o biometano, gás natural e etanol terá mais protagonismo?

R. Acreditamos que, em razão da grande extensão e às diferentes características do Brasil, a descarbonização do transporte implicará na adoção de soluções diferenciadas em cada região do País. O ônibus elétrico a bateria foi a primeira solução adotada e, apesar de um início com bem poucas unidades em utilização, superamos 1.000 comercializadas este ano e deveremos continuar com a substituição de veículos a diesel pelos elétricos, mas em um ritmo menor do que o planejado, pelas questões como custo de aquisição e infraestrutura de recarga.

Entendemos que o maior crescimento se dará no uso do biometano. Vão utilizar essa tecnologia as regiões onde existe capacidade para a sua produção e distribuição, como o Centro-oeste, parte do Sudeste e do Nordeste, fortes na pecuária e cana-de-açúcar.

Como mencionado anteriormente, a solução de ônibus híbrido a etanol está em seu início. Em 2026, a sua implementação será incipiente.

O mais importante é que acreditamos que o processo da transição energética deverá se acelerar com iniciativas como o Banco do Clima e de bancos privados financiando através do Fundo do Clima, porque as taxas são bastante atrativas para as frotas descarbonizadas.

O grande desafio é saber quem paga a conta porque o preço da tarifa não tem como custear a diferença para se utilizar qualquer veículo descarbonizado no lugar de um veículo convencional a diesel. Então, existe uma pressão política e algumas cidades vão ser beneficiadas com financiamentos e as prefeituras devem prover o crédito para fazer essa transição.

Ano de eleição pode aumentar a demanda por urbanos? A renovação de frota nos rodoviários está limitada pelos altos juros para financiamento. Existe alguma solução nos curto e médio prazos para acelerar a renovação?

R. Tradicionalmente, a demanda por ônibus urbanos cresce em anos eleitorais, como 2026. Isso deverá ser impulsionado porque o Governo Federal deverá destinar mais recursos para o PAC3 e algumas prefeituras também vão investir e dar subsídios para o transporte coletivo, com o aumento na venda de urbanos.

Com relação aos rodoviários, o crescimento de produção e vendas vai depender do crescimento do turismo interno e também das exportações, que são uma fonte importante, sobretudo para países da América Latina, como a Argentina. Assim, poderemos ter a renovação de frota em um ritmo mais forte do que ocorreu este ano.

O que pode dificultar é que, no segmento de rodoviários, a taxa de juros é decisiva para a renovação de frota. Como a taxa Selic está muito alta, não vai arrefecer tão cedo e deve fechar o ano de 2026 em torno de 12 a 13%, isso poderá ser um impeditivo para a renovação, com os operadores postergando a troca.

Como não existe juros subsidiados para os rodoviários, como há no PAC 3 para o transporte urbano, a renovação será muito mais motivada pelo aumento de demanda e pela redução de custo que os veículos Euro 6 possibilitam para o operador em comparação com os ônibus Euro 5 ou mesmo Euro 3 ainda em uso.

As licitações podem ajudar a aumentar a produção em 2026?

R. Sim. São um componente importante para impulsionar a demanda por ônibus. Existem muitos municípios promovendo licitações, como em Porto Alegre, e entre outras, onde os prefeitos estão captando recursos para promover a renovação do transporte com novos veículos. Além disso, o pregão do Caminho da Escola de 7,4 mil unidades, que, dependendo de quando for realizado, deverá impactar na produção brasileira de ônibus a partir do segundo trimestre de 2026, e também o PAC 3, fator muito importante para o segmento de urbanos.

Quais as estratégias da sua empresa para crescer no segmento de ônibus em 2026?

R. Diante do cenário atual, para 2026, se conseguirmos manter os volumes de produção deste ano, já será uma grande conquista. Para isso, precisamos acompanhar questões como PIB, a taxa de emprego e a variação da taxa Selic, entre outras. O Marco Legal do Transporte Público também

 poderá alavancar a demanda.

Na visão da Fabus, a melhor estratégia para termos um bom 2026 e incentivarmos a produção e venda de ônibus é oferecer bons produtos, assistência técnica rápida e eficiente, bons prazos de entrega e linhas de financiamento atrativas. Cada segmento da Fabus tem estratégias diferentes para ajudar o mercado a crescer, mas se, neste próximo ano, período de muita instabilidade, mantivermos a produção atual já ser um grande feito para a indústria brasileira de ônibus.

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