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O incidente que ocorreu no último dia 21 de novembro no Terminal Grajaú, em São Paulo, quando um ônibus elétrico apresentou pane elétrica no sistema de baterias, acende a luz de alerta para dois pontos fundamentais – ainda ignorados pelos órgãos legisladores – e que vêm ocorrendo com frequência em todo o mundo. O incêndio em ônibus elétricos e híbridos, e a falta de legislação específica sobre a segurança e os procedimentos para proteger os passageiros e toda a sociedade. Não há regulamentação definida sobre o tema.
O número de veículos híbridos e elétricos em utilização tem crescido em todo o mundo, assim como os riscos de incêndio. Devido à falta de conscientização pública sobre os riscos e como esses veículos diferem daqueles movidos por motores de combustão convencionais, incêndios em ônibus elétricos tem acontecido em todo o mundo com mais frequência do que se imagina, como o ocorrido no início de outubro na Itália e que vitimou 21 pessoas.
No Brasil, como a frota ainda é incipiente e roda em rotas específicas, esses episódios são ainda mais desconhecidos.
Infelizmente, pelo desconhecimento e falta de legislação, a indústria automobilística mundial, de veículos leves e pesados, como o ônibus, ainda está aprendendo sobre os impactos dessa nova tecnologia e os riscos de incêndio podem crescer proporcionalmente à ampliação da frota.
É preciso definir quais medidas os operadores de transporte podem e devem tomar para garantir a segurança do motorista e dos passageiros.
Segundo especialistas internacionais, todos os veículos elétricos têm o potencial de causar incêndios, por isso é fundamental que os condutores e aqueles que fazem uso desses modelos, inclusive automóveis de passeio, estejam conscientes dos riscos e tomem medidas para reduzir os riscos de ocorrências.
As baterias de íons de lítio podem ocasionalmente sofrer um fenômeno conhecido como “fuga térmica”. Isso ocorre quando as células da bateria apresentam mau funcionamento, o que pode ser causado por danos físicos, superaquecimento, sobretensão ou sobrecarga. Nesse caso, a temperatura sobe rapidamente, o que, se ignorado, pode causar incêndio, emissão de gases venenosos e até explosões.
A fuga térmica da célula refere-se ao auto aquecimento rápido de uma célula derivada da reação química exotérmica do eletrodo positivo altamente oxidante e do eletrodo negativo altamente redutor. Isso pode ocorrer com baterias de quase qualquer substância química. Em uma reação descontrolada térmica, uma célula libera rapidamente sua energia armazenada. Quanto mais energia uma célula armazena, mais energética será a reação térmica descontrolada.
Uma das razões pelas quais as reações térmicas das células de lítio íon podem liberar muita energia é que essas células possuem densidades de energia muito alta em comparação com outras químicas celulares. A outra razão pela qual as reações de fuga térmicas das células de lítio íon podem ser muito energéticas é porque essas células contêm eletrólito inflamável e, assim, elas não apenas armazenam energia elétrica na forma de energia potencial química, mas também armazenam energia química apreciável (especialmente em comparação com células com eletrólitos à base de água) na forma de materiais combustíveis.
Para o início da fuga térmica da célula (ou ignição de combustível), a taxa de geração de calor deve exceder a taxa de perda de calor. A gravidade de uma fuga térmica em uma célula de lítio íon dependerá de vários fatores, incluindo o estado de carga, a temperatura ambiente, o projeto eletroquímico da célula e as características mecânicas da célula tais como o tamanho, o volume de eletrólitos, etc.
Para qualquer célula, a reação de fuga térmica será mais grave quando essa célula estiver completamente carregada. Se uma célula típica de lítio totalmente carregada (ou sobrecarregada) sofre uma reação descontrolada térmica, pode ocorrer o aumento da temperatura e da pressão interna da célula.
Uma bateria é mais perigosa durante a fuga térmica porque, uma vez iniciada, produz seu próprio oxigênio. Isso normalmente indica que a maior parte das técnicas tradicionais de supressão de incêndio não funcionará e que uma ignição é altamente provável. Portanto, se uma bateria de íons de lítio entrar na fase de fuga térmica, pode levar muito tempo para interromper o processo e extinguir completamente o incêndio, o que exige muita água e agente extintor.
Ausência de legislação específica em todo o mundo
Apesar destes novos riscos e dos potenciais efeitos sobre as pessoas, as frotas e a sociedade, a legislação para proteger os veículos elétricos contra incêndios está atrasada ou inexiste.
Na Europa, a Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa (UNECE) aprovou, em 2020, o Regulamento 107 para aumentar a segurança dos ônibus tradicionais, que exige que os veículos movidos por motores de combustão tenham equipamento de supressão de incêndios a bordo. No entanto, essa regulamentação somente se aplica a veículos movidos por motores a combustão e isenta os veículos elétricos das mesmas normas.
Os fabricantes de veículos elétricos e de equipamentos e as organizações de usuários finais frequentemente não estão cientes de quão variáveis são os riscos de incêndio com base no tipo de bateria durante a implantação de ônibus elétricos.
À medida que a tecnologia e a adoção de veículos elétricos crescem é necessário criar legislações específicas para gerir a segurança e proteger os usuários, os veículos e as frotas em circulação.
Veículos elétricos são mais propensos a incêndios?
Veículos elétricos, como ônibus, não são mais propensos a incêndios do que veículos a diesel ou gasolina, de acordo com especialistas. Na verdade, segundo especialistas, o risco de incêndio é 80 vezes maior em veículos a combustão em comparação com veículos elétricos. No entanto, quando um incêndio ocorre em um veículo elétrico, pode ser mais difícil de controlar, devido às altas temperaturas das baterias de íons de lítio, que podem continuar queimando por um longo tempo e liberar produtos químicos tóxicos na atmosfera.
Para evitar a “fuga térmica” é aconselhável carregar carros elétricos ao ar livre ou em locais bem ventilados para minimizar os riscos. Ou seja, embora os veículos elétricos tenham um menor risco de incêndio em comparação com os veículos a combustão, é crucial garantir que as baterias sejam projetadas e gerenciadas com segurança para lidar com qualquer eventualidade de incêndio.
O acidente e incêndio ocorrido com um ônibus elétrico no início de outubro, em Mestre, Itália, demonstra que devem ser tomadas medidas rigorosas para garantir a segurança de passageiros e socorristas em caso de acidentes. A indústria automobilística e as autoridades de segurança deverão rever e aprimorar os padrões de segurança dos veículos elétricos, minimizando ainda mais os riscos associados a esse tipo de tecnologia em constante evolução.
Por José Carlos Secco